O circo/cerco da informação (vídeo)

A dificuldade de filtrar conteúdo.

A dificuldade de filtrar conteúdo.

Durante alguns anos trabalhei na área de marketing digital. Um campo de conhecimento ainda novo, porém carregado de crenças e modelos mentais importados do marketing tradicional.
Talvez o dilema para produzir excelentes experiências de uso na web seja a crença de que o usuário não está disposto a pagar por isto. Desta forma, abarrotamos os espaços com propagandas que paguem a conta (claro, ainda é melhor do que revistas e jornais, que pagamos pelo conteúdo e continuamos abarrotados de mensagens publicitárias).

A internet mudou e ainda transforma como cada indivíduo lida com informações e conhecimento.
Não é surpresa a ninguém o fato de que lidamos com um volume cade vez maior de conteúdo e boa parte por opção própria, abarrotando as ‘timelines’, RSS feeds e aplicativos. Mas talvez, pelo fato de que a maioria deste conteúdo nos seja servido fatiado, em poucas linhas, e rapidamente eliminado da tela, dificulte a nossa real percepção do volume com o qual manejamos diariamente.

Ainda estamos aprendendo a utilizar estas ferramentas que nos deixam completamente conectados, portanto não é incomum toparmos no WhatsApp (aplicativo para smartphone), facebook, sites de internet, com conteúdos e publicidades que logo ignoramos e na maioria das vezes nos desviam do propósito do uso pelo qual chegamos até lá.
Quem nunca entrou para ler um artigo em um site especializado e teve que se livrar das janelas que brotam antes com mensagens variadas, e na leitura do texto (espremido entre tanta publicidade) ainda precisou se esquivar de banners que expandem quando seu mouse os cruza? No fundo, só lemos até o fim se realmente desejamos aquele conteúdo, pois a experiência de uso do provedor fez de tudo para desistíssemos e logo clicarmos em uma propaganda que esteja dançando ao lado. Qual é o papel deste conteúdo?

Nesta apresentação feita pelo entusiasmado Brad Frost,  de forma irônica e envolvente, ele carrega uma reflexão sobre a presença e espaço tomado pelo bullshit (papo furado, conversa mole, besteira).
Infelizmente ainda não há legendas. Solicitei o video ao mesmo.  Caso consiga legendarei e substituo por este aqui.

Alguns dos grandes números que ele apresenta são impressionantes:
– 10% de todos os livros escritos até hoje foram publicados em 2012
– 10% de todas as fotos feitas até hoje foram clicadas em 2012

Nunca fomos tão livres para nos expressar, para encontrar a nossa voz.
Mas não nos enganemos, a maioria do conteúdo que toma conta do cotidiano digital da maioria ainda é aquele produzido e compartilhado pelos grande canais de mídia movidos por diferentes grupos de interesses.

Mas tem muita gente querendo mudar isto. Esta iniciativa da Agência Pública por exemplo quer colocar nas mãos dos leitores quais estórias serão escritas/investigadas. O objetivo é dar liberdade editorial ao jornalista através do financiamento pelos leitores.

Um novo American Way of Life nasce da turbulência

Pela nossa passagem aos EUA pudemos experimentar um pouco de tudo que cerca esta cultura tão reproduzida pelo mundo.
Desde a nossa moradia na Califórnia, até aos dias em Nova Iorque e Boston após cruzar o país e tantos Estados e culturas, fui sentindo uma transição na cultura americana, mais evidente nas cidades com maior concentração universitária. Um bom exemplo é a gradual troca dos veículos de quatro rodas por duas rodas (e não motorizadas!) ou mesmo pelos pés em economias antes baseadas no automóvel e que ainda carecem de estrutura viária para alternativas de locomoção.

Desde 2008 que os EUA não são o mesmo. A famosa e repetida estória da crise imobiliária que desnudou diversas mazelas na forma gananciosa e estúpida que o sistema financeiro se organiza (ainda se organiza, por lá, no Brasil ou em praticamente qualquer outro país) ainda está sendo escrita.

Passado o período de ‘crise econômica’ mais acentuada, agora é possível enxergar ramificações desta mesma estória na cultura do país. O clássico modelo do American Way Of Life, que começou a sua derrocada na década de 70 e está com os dias contados.

The Highline Park (New York)

New York: The Highline Park

Em Boston, antigas casas divididas hoje em 3 ou 4 moradias. Em San Francisco (como em Portland) os automóveis perdendo faixas para trens, ônibus e bicicletas. Em Nova Orleans quarteirões de casas abandonadas. Em Nova Iorque brotam projetos e atividades de ocupação da cidades pelos moradores (talvez o mais suntuoso seja o High Line Park, de 2009)enquanto as bicicletas começam a tomar espaço mesmo no caótico trânsito, montadas por gente de todas as idades.

Um olhar um pouco mais atento combinado a boas conversas com os locais deixam evidente que este país está iniciando um processo de transformação cultural.
O texto publicado no final de julho pelos Silas Martí (abaixo) faz um bom mergulho nestes temas, trazendo a voz de alguns pensadores sobre este fenômeno.
Convido você a leitura e reflexão sobre qual o modelo de organização social que alimentamos e valorizamos nas nossas próprias comunidades e país.

Na nossa passagem pela Costa Rica, quando estivemos na capital, nos hospedamos (via couchsurfing) na casa do Roberto. E por lá pudemos ver a multiplicação de condomínios de casas em subúrbios ao redor de San José. Estilo de vida este que praticamente obrigada a mobilidade através de carros, isola culturalmente seus moradores da cidade e das discussões sociais contemporâneas, tudo isto em nome da segurança e de um ambiente mais natural.
A realidade porém é que o crescimento destes subúrbios gradualmente destrói a natureza, a medida que em um certo momento, entre estes e as cidades (das quais se afastaram) só existem construções.
Fora a contradição de buscar mais contato com a natureza, mas para isto ter que levar um estilo de vida altamente poluente com seus 30-60km rodados diariamente com carros, normalmente vazios, para se deslocar).

Das 4 faixas, uma dedicada apenas as bicicletas/skate/patins e outra ao trem/bonde.

San Francisco: Das 4 faixas, uma dedicada apenas as bicicletas/skate/patins e outra ao trem/bonde.

O que os EUA parecem estar enfrentando agora, é que as pessoas começam a se mobilizar/organizar em busca de natureza e segurança nas suas próprias cidades, e não mais afastando-se em um modelo fadado ao fracasso.

Abaixo o excelente olhar do Silas. Pontualmente discordo apenas do título, acredito que o aparentemente pesadelo tem o potencial de ser um renascimento não apenas econômico, mas sim cultural de um país que há tempos mergulhou a si mesmo em um modelo de consumo de recursos insustentável sob qualquer espectro, seja ele ambiental ou até psicológico.

Pesadelo americano

RESUMO Casos como o pedido de concordata de Detroit, arruinada pela crise econômica, sinalizam a decadência dos subúrbios como modelo urbanístico nos Estados Unidos. Em contraponto, a reocupação dos centros das grandes cidades atesta o renascimento das metrópoles como símbolo de um urbanismo mais espontâneo.

*

BRUSH PARK é um bairro de Detroit conhecido por suas mansões de arquitetura vitoriana, com telhados inclinados e grandes colunas em estilo romano. Só que essas mesmas casas, antigas residências dos barões da indústria automotiva, estão caindo aos pedaços. Têm suas portas e janelas lacradas, rachaduras nas fachadas e tetos que ruíram, deixando à vista seus interiores em frangalhos.

Um passeio pela região, como fez o fotógrafo Kevin Bauman numa série estarrecedora de imagens, revela estruturas apodrecendo no rastro da maior crise a atingir uma cidade dos Estados Unidos. Detroit, que já foi a terceira maior metrópole do país, com população de 1,8 milhão, hoje tem só 700 mil almas e acaba de entrar em concordata.

Soterrada em dívidas que beiram US$ 20 bilhões, cerca de R$ 44,7 bilhões, Detroit acaba de pedir resgate ao governo do Estado de Michigan, o caso mais grave desse tipo na história dos EUA.

Enquanto políticos e moradores perplexos tentam se reerguer na terra arrasada deixada pela crise econômica que se arrasta há seis anos, sinais de vida vão sumindo, a prova de que Detroit -e todo o modelo de centros financeiros rodeados de subúrbios que pautou o urbanismo americano no século 20- está em franca decadência.

Mais de um terço das luzes nas ruas de Detroit está apagado, metade de seus parques está fechada, e a cidade, que hoje tem o maior índice de homicídios nos Estados Unidos -54,6 em 100 mil habitantes-, tem 80 mil prédios e casas abandonadas. É a massa falida de hipotecas não honradas, fósseis de uma bolha de especulação imobiliária que estourou causando estrago maior do que a mais pessimista das previsões.

Detroit é também um microcosmo da derrocada e não está sozinha no panorama de subúrbios arruinados do país. San Bernardino e Riverside, condados nos arredores de Los Angeles conhecidos como o Inland Empire, reforçam a imagem da crise, com casas abandonadas ao longo de largas vias expressas que rasgam o deserto.

Nessa que é talvez a maior comunidade dormitório do país, vivem 4,1 milhões de pessoas, as quais dependem do carro para chegar ao trabalho, em geral uma jornada de uma hora e meia. Em Penn Hills, subúrbio de Filadélfia, na Pensilvânia, um estudo mostrou que os moradores gastam tanto com gasolina quanto com o aluguel.

Outros números também atestam a crise. Em 2010, pela primeira vez na história dos Estados Unidos, o índice de pobreza foi maior nos subúrbios do que nas grandes cidades em torno das quais eles gravitam. Na última década, o número de pobres também cresceu duas vezes mais rápido nessas comunidades do que nas metrópoles do país, revelando o lado mais sombrio do sonho americano.

De certa forma, esse urbanismo que começou a tomar forma com a difusão do uso do carro nos anos 1920 e se configurou como modelo americano por excelência nos anos 1960 começa a ruir.

DEFESA

Depois da Segunda Guerra Mundial e no auge das teorias conspiratórias da Guerra Fria, a ideia de desfazer grandes aglomerados urbanos e espalhar a população por vastas faixas de terra ganhou força quase como uma estratégia de defesa nacional.

“Havia a crença real de que um ataque nuclear era iminente, então levar as pessoas para longe dos grandes centros ajudaria a salvar muitas vidas americanas”, diz

Vishaan Chakrabarti, professor da Universidade Columbia. “Isso estava na cabeça dos políticos e ajudou a impulsionar a economia do país por causa dos altos índices de consumo associados ao estilo de vida suburbano, que exige gasolina, carros e toda a indústria para aquecer casas gigantescas.”

No imaginário popular, o subúrbio moldou a imagem do país, em oposição aos centros apertados das metrópoles europeias.

Edward Ruscha, artista de Los Angeles, fez livros e livros com séries de fotografias de grandes piscinas ardendo sob o sol californiano, bombas de combustível resplandecentes e imensos estacionamentos asfaltados, algo entre a ode à bonança de um estilo de vida ancorado num horizonte de consumo sem limites e um ataque velado às armadilhas que esse modelo poderia acarretar.

Seriados como “Desperate Housewives” e “Weeds”, que encerraram suas temporadas no ano passado, ironizam o vazio da vida afastada dos grandes centros e o tédio que acomete dondocas donas de casa, homens em crise de meia idade e também seus filhos adolescentes e maconheiros.

Quatro décadas atrás, Larry Clark, em sua série fotográfica “Tulsa”, desfez qualquer ideia de idílio suburbano ao mostrar garotos injetando heroína na veia e brincando com revólveres em plena luz do dia. São as mesmas entranhas torpes desse modelo que Sam Mendes tentou expor em “Beleza Americana”, filme de 1999 com uma galeria de personagens disfuncionais e caricatos, um ataque à ideia de ilhas de tranquilidade que os subúrbios sempre ostentaram ser.

FREIO

Demógrafos, como William Frey, e urbanistas, como Vishaan Chakrabarti, Edward Glaeser, Richard Florida e outros, hoje chegam a decretar a morte dos subúrbios, que consideram insustentáveis do ponto de vista econômico e pouco eficientes como modelos de planejamento urbano. Em entrevista ao jornal “Financial Times”, Frey fala em “puxar o freio” de um sistema que pautou os EUA até hoje. É uma metáfora que faz ainda mais sentido quando se leva em conta a enorme dependência dos subúrbios do uso do automóvel.

Detroit é o caso mais flagrante. A cidade que se ergueu à custa da indústria automobilística faliu porque os moradores ricos debandaram para os subúrbios a bordo de seus carros, deixando no centro só as classes mais pobres, que pouco contribuem com impostos.

Mas é das cinzas desses centros combalidos que as novas cidades estão surgindo. Mesmo em Detroit, os únicos sinais de vida estão no miolo da cidade, ruas que podem ser frequentadas a pé e que aos poucos vão prescindir dos carros, já que está em estudos a ressurreição de um sistema de bondes.

No país dos SUVs o número de jovens que dirigem também está em queda livre. Dados recentes mostram que 20% da população entre 20 e 24 anos de idade não tem carteira de habilitação. Na faixa dos 18 anos, esse índice é de 40%. No total, o número dos sem carteira dobrou nos últimos 30 anos.

Isso ajuda a explicar por que o bonde urbano e grandes projetos de transporte público, como o de Charlotte, na Carolina do Norte, estão com toda a força. Enquanto o metrô de superfície ou linhas de ônibus não chegam a essas cidades desacostumadas ao transporte coletivo, a onda de bicicletas de aluguel ganha fôlego impressionante, de Austin a Nova York.

Nessa troca das quatro rodas por duas, ou mesmo pelos pés, volta a entrar em cena o poder de atração das grandes metrópoles, a reboque da revitalização de grandes centros urbanos antes degradados. Há dois anos, pela primeira vez, o crescimento da população nas metrópoles americanas bateu o aumento no número de residentes em seus subúrbios.

“Hoje mais pessoas vivem nas cidades do que nos subúrbios. Estamos vendo surgir uma nova geração urbana nos Estados Unidos”, diz Vishaan Chakrabarti, que acaba de lançar “A Country of Cities” [Metropolis Books, 252 págs., R$ 93,50], uma espécie de manifesto contra os subúrbios. “Essas pessoas dirigem menos, moram em apartamentos mais econômicos, têm mais mobilidade social e mais oportunidades.”

Nessa mesma linha, arquitetos e urbanistas vêm escrevendo livro atrás de livro no afã de explicar esse tal ressurgimento da metrópole como panaceia urbanística global.

Além de Chakrabarti, Bruce Katz e Jennifer Bradley escreveram “The Metropolitan Revolution” (Brookings Institution Press), sobre a volta ao transporte público como remédio para uma economia frágil, Edward Glaeser lançou “The Triumph of the City” [Penguin, 338 págs., R$ 50], uma ode às cidades com tons que beiram a autoajuda, enquanto Richard Florida faz uma apologia às classes criativas que emergem nas metrópoles em “The Rise of the Creative Class” (Basic Books).

INVERSÃO

Esse coro sublinha o que teóricos americanos batizaram de “inversão geográfica do sonho americano”: a volta ao centro dos mais afluentes que migraram para o subúrbio atrás de calma e tranquilidade e hoje se veem atolados em dívidas impossíveis de pagar e reféns do automóvel.

“Isso que estamos vendo agora em Detroit é a crônica de uma morte anunciada”, diz Janaina Maquiaveli Cardoso, autora de “Cidades em Miniatura” [Comunicação de Fato, 132 págs., R$ 35], um estudo recente que compara a revitalização do Meatpacking District, em Nova York, e os planos para reconfigurar a região da Luz, no centro de São Paulo.

“É muito mais caro deslocar as pessoas para o subúrbio do que adensar o centro. O interesse na revitalização do centro vem da percepção de que o que movimenta o dinheiro são as grandes cidades e suas redes de conexão internacionais: a cidade e o centro são os lugares ideais para essa economia.”

Do Meatpacking à Luz, parece estar em jogo a retomada de valores básicos para um urbanismo que prioriza a vida agitada das calçadas, o comércio de rua e soluções pontuais para problemas de bairro. No lugar de grandes intervenções, querem reabilitar uma cartilha lançada pela norte-americana Jane Jacobs (1916-2006), cujo ideário perdura em “Morte e Vida de Grandes Cidades”, de 1961, hoje considerado um clássico dos estudos urbanos.

Numa Nova York em plena ebulição e no auge da transição de uma velha economia industrial para o capitalismo de serviços de hoje, Jacobs, uma jornalista do Village, então um bairro de classe média e imigrantes, foi quem, por cerca de dez anos, levantou a voz contra os projetos hiperbólicos de Robert Moses, encarregado do poder público para reconfigurar e desafogar o trânsito da cidade.

Os protestos de Jacobs evitaram que fosse construído ali um elevado de oito faixas de largura que arrasaria 14 quarteirões do sul de Manhattan, hoje um dos pontos mais valorizados da ilha -caro, talvez, por concentrar uma vida urbana intensa, que lota os cafés e butiques dia e noite.

POÉTICA DO PEQUENO

“Está havendo um revival dessas ideias da Jane Jacobs. Ela mostra como as grandes estruturas desumanizam a cidade, matam a vida na rua”, diz Guilherme Wisnik, curador da próxima Bienal de Arquitetura de São Paulo, que começa em outubro. “Agora se dá mais valor a uma poética do pequeno, é uma crítica às grandes obras.”

Numa cidade como São Paulo, isso significa uma descrença cada vez maior no modelo de condomínios fechados que seduziu a classe média desde os anos 1990 e a inviabilidade crescente de projetos como a Granja Viana ou Alphaville, que se tornam inacessíveis na hora de pico no trânsito.

Mesmo bairros dentro do perímetro da cidade, como o Morumbi, na zona oeste de São Paulo, já sofrem com índices mais altos de criminalidade e congestionamentos nas garagens dos prédios, em contraponto à valorização do centro, em especial a rua Augusta, que virou um dos maiores focos da especulação imobiliária por estar encravada no meio da cidade.

Enquanto empreiteiras seguem construindo pirulitos a todo vapor, alguns espaços da maior metrópole brasileira vêm cedendo às ideias de um urbanismo mais saudável.

Mesmo com um projeto que deixou a desejar, a reforma da praça Roosevelt, por exemplo, é elogiada por arquitetos e urbanistas por estabelecer um espaço de fato público numa zona antes inóspita. Perto dali, um complexo de equipamentos culturais do município, batizado Praça das Artes, cria uma ilha de cultura que se funde ao entorno da região central.

CIDADES COPYLEFT

Muitas das soluções para esses contextos urbanos revigorados partiram de suas populações locais, que também prescindiram do poder público ou só recorreram a ele em última instância, na hora de aprovar as obras maiores.

Num eco da batalha entre Jane Jacobs e Robert Moses, casos como a transformação de um ramal ferroviário desativado num parque, o High Line, em Nova York, ou intervenções mais modestas, como a criação de habitação de baixa renda no velho edifício União, no centro de São Paulo, são exemplos de renovação espontânea que partem dos moradores dos bairros.
Giselle Beiguelman, pesquisadora de cultura urbana e professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, vê aí casos do chamado “urbanismo copyleft”.

Um exemplo disso foi a ação, durante a última Virada Cultural em maio, em São Paulo, de um coletivo de arquitetos que projetou luzes sobre os prédios vazios do centro, oferecendo um contraponto silencioso à festa ao mostrar que o palco do espetáculo fica vazio a maior parte do tempo e poderia servir de moradia.

“É um urbanismo que surge do embate com a cidade”, diz Beiguelman. “Está afinado com a cultura ‘do it yourself’, de um urbanismo de código aberto, que traz regras mais claras e explícitas.”

Também tem a ver com as manifestações espontâneas que varreram o globo, da Primavera Árabe a Istambul e São Paulo, lugares em que o espaço público no centro das cidades ganhou nova ressonância espacial e política, palcos de um movimento que, em última instância, busca melhorias urbanas.

Nesse ponto, vale lembrar que os embates em Istambul começaram para evitar que um parque se transformasse em shopping, talvez o símbolo mais claro da obsolescência de um modelo urbanístico que sequestra o espaço público e transforma o que seria a vida das ruas em praças de alimentação e salas de cinema multiplex.

Depois de uma onda de protestos que deixou quatro mortos e 7.500 feridos, os turcos conseguiram reverter a decisão do governo e garantiram, por enquanto, a preservação de uma das únicas áreas verdes no centro de Istambul.

novas geografias Mais verdes ou ainda cinzas, as metrópoles passam agora não só por uma reconfiguração de seus centros mas se articulam numa rede de “novas geografias de centralidade”, nas palavras da urbanista norte-americana Saskia Sassen.

Uma das maiores estudiosas do assunto, a professora da Universidade Columbia viu ali mesmo, em Nova York, o processo que fez do Brooklyn, bairro de classe média e grande população judaica, um reduto “hipster” ultracaro.

Se, por um lado, o novo Brooklyn fez a felicidade do mercado imobiliário e injetou vida nova num pedaço da cidade antes ignorado pelos mais ricos, a exemplo do que já ocorrera no Meatpacking, é também um sinal de encarecimento insustentável, que expulsa as classes trabalhadoras e reserva o bairro a uma elite global.

“Esses espaços acabam concentrando os super-ricos”, afirma Sassen. “O grande problema então passa a ser a desigualdade, o que gera insatisfação e movimentos populares como os que temos visto, ocupando praças e ruas.”

Adrian Ellis, arquiteto britânico radicado nos Estados Unidos, resume esse quadro lembrando que há mais tráfego aéreo entre Nova York e Londres do que entre a maior cidade americana e qualquer outro ponto dos EUA. “São pessoas e dinheiro viajando cada vez mais rápido”, diz Ellis. “Essas são cidades globais que viram pontos nevrálgicos do mundo, que concentram todo o capital.”

Depois da gentrificação, ou processos que alguns já batizaram de “Brooklynização” do centro das cidades, urbanistas já anunciam a era da “plutocratização” das metrópoles. E é daí que poderão surgir as próximas revoluções.

SILAS MARTÍ – Folha de São Paulo

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2013/07/1317254-pesadelo-americano.shtml

Pequenas mudanças: grandes transformações

Fonte: Think Outside the Bottle

Fonte: Think Outside the Bottle

Ao longo do tempo vou postar alguns pensamentos quanto ao nosso comportamento cotidiano.
A ideia é apenas refletir sistematicamente o impacto das nossas escolhas.

Para começar esta série, um tema muito simples: a água que bebemos.

Me lembro de quando era garoto que água para beber não era um tema muito falado.
Onde cresci, tínhamos uma bica que aos finais-de-semana os pais levavam as crianças, que ficavam encantadas com a água fresca brotando, e uma série de garrafas e galões para encher.

Como em nossa cidade a água que vinha pelos canos (‘da rua’) não era considerada potável, todos tinham filtros de água. O mais comum eram os filtros de recarga, no qual tínhamos que pegar o filtro e enchê-lo de água para que o mesmo realizasse a filtração (lembram-se dos clássicos de barro?).
E ao mesmo tempo, cada vez mais tornava-se popular os filtros embutidos (ligados ao encanamento), nos quais a água já saía filtrada diretamente, eliminando o trabalho de recarga e possibilitando a comodidade de ter sempre água e em praticamente qualquer quantidade desejada (inclusive já gelada).

Em muitos países e cidades, a água que chega diretamente nas casas, escritórios etc já vem preparada para o consumo, o que possibilita a não utilização do filtro (apesar de mesmo nesta realidade, muitas pessoas optarem por um filtro, sob o pretexto de eliminar um sabor residual do tratamento que a mesma foi submetida).

Razões pelas quais os entrevistados alegam ter substituído a água por engarrafada

Razões pelas quais os entrevistados alegam ter substituído a água por engarrafada

Porém uma cena comum na casa de nossos conhecidos e filmes passou a ser galões e garrafas de água.
Conversando e pensando é difícil entender o porquê.
Muitos discursos tratam da percepção de baixa qualidade da água encanada e dos filtros que utilizamos. Outros da praticidade de comprar uma garrafa/galão de água – discutíveis – alguém já teve que trocar um galão de água? Ou sair de um supermercado carregando água suficiente para uma semana? Não costuma ser agradável.

E supondo que esta comodidade seja verdadeira, ela vale o custo tão exorbitante em relação a água encanada?

Este vídeo tem o intuito de defender o uso da água ‘da rua’ e faz um mergulho cronológico na evolução deste mercado/costume da água engarrafada.

Campanha Canadense sobre água encanada (tap water)

Campanha Canadense sobre água encanada (tap water)

Campanha Canadense sobre água encanada (tap water)

Campanha Canadense sobre água encanada (tap water)

Dados de 2007 fornecidos pela ABINAM:
– U$ 100 Bilhões foi o faturamento do mercado internacional de águas
– 10% é o crescimento do mercado nacional nos últimos anos
– 4o é o lugar do Brasil no ranking mundial dos produtores (atrás de EUA, México e China)
– 7.6% é a taxa média anual de crescimento internacional deste mercado
– A receita do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), vinculado ao Ministério de Minas e Energia arrecadou 50% a mais em 2008 do que em 2007 (R$ 857 mi) apenas com compensação financeira advinda das concessões de exploração de recursos minerais.

O Brasil e o consumo de plástico neste mercado:

Fonte: UNESEM, 2000)

Fonte: UNESEM, 2000)

Fonte: http://www.tgtstudio.com.br/aguaevida/?p=56

Mercado Brasileiro, Fonte: O mercado de 7 bi de litros ABINAM

Para ler mais:
O mercado de 7 bi de litros (ABINAM) – Fonte
Bottled Water: Understanding a social phenomenon Ferrier, Catherine (2001) – Fonte, Artigo
T.eau named the Official Tap Water of Toronto David Carlson
Global Drinking Water Quality Index Development and Sensitivity Analysis Report Nações Unidas (2007)
Claim that South Africa one of only twelve countries with safe tap water is false Research by Julian Rademeyer
World Water Assessment Programme (WWAP) Unesco
Think Outside the Bottle

A educação Proibida

O que você acha do modelo de educação atual? Quais sãs as brechas? Quais as contradições?

Em nossa expedição pela América Central pudemos comprovar uma estrutura educacional instalada similar à nossa brasileira. Um modelo europeu (da década de 60) replicado a uma realidade completamente diversa.
Em países sedentos por empreendedores, por protagonismo juvenil, pela consciência coletiva e apropriação dos dilemas locais, continuamos colocando os alunos em salas de aulas no papel de coadjuvante, recheando as horas com conteúdo passivo, e expondo os professores a um constante de desinteresse e descaso por parte não só dos alunos, mas também dos pais.

Desta forma, continuamos educando crianças no paradigma da competição, em um mundo que clama por colaboração nas esferas local e global.

Uma das minhas frases favoritas acontece logo aos 10 minutos de filme, quando o professor Lipnizky diz:
“Todo mundo fala de paz, mas ninguém educa para a paz. As pessoas educam apenas para a competição e a competição leva à guerra.”

la-educacion-prohibida

Foi esta inquietude que fez o diretor Germán Doin Campos, aos seus 24 anos, dirigir um filme que já foi visto por mais de 8 milhões de vezes no YouTube.
Você ainda não é uma destas pessoas? Está aí uma boa programação para o próximo domingo.

Convide pessoas que se interessem pelo mesmo tema para assistir, bons papos irão derivar destas 2h25min de filme.

Abaixo duas versões. A primeira com legenda em português (a versão oficial ainda não oferece legendas em português) é exatamente igual a oficial, apenas não em HD.
E a segunda, a versão oficial em HD e com legendas em inglês, francês etc.

Português:

English, French, German, Italian etc:

Bom filme.

E se gostar recomendo assistir a entrevista com o diretor:

Página oficial do filme:
http://www.educacionprohibida.com/

Curiosidades sobre o mundo

Uma coletânea de curiosidades retratadas em mapas para conhecer um pouco mais de cada canto do mundo. De informações interessantes a banais (e muitas sem fontes confiáveis!).
Vale pela descontração.

Os países mais receptivos a estrangeiros

Os países mais receptivos a estrangeiros

Mapa mundi proporcional às populações dos países

Mapa mundi proporcional às populações dos países

A liberdade de imprensa pelo mundo (fonte: Repórteres sem fronteiras)

A liberdade de imprensa pelo mundo (fonte: Repórteres sem fronteiras)

A origem da língua falada dominante

A origem da língua falada dominante

Bebida ao redor do mundo

Bebida ao redor do mundo

Esportes favoritos ao redor do mundo

Esportes favoritos ao redor do mundo

Divisão política atual na Pangea

Divisão política atual na Pangea

Tamanho dos seios pelo mundo

Tamanho dos seios pelo mundo

Tamanho do pênis pelo mundo

Tamanho do pênis pelo mundo

Fonte: Catraca Livre